AAPA convida
23.10 / 13.11.2020 / 27.05.2021
Co-organização:
Associação de Amigos da Praça dos Anjos
Participantes:
Mariana Morais, Kiluanji Kia Henda, Catarina Simão
Como todos os outros, 2020 está a ser ano atípico. Entre uma miríade de acontecimentos mais ou menos trágicos, estamos a viver uma verdadeira epidemia de estátuas caídas. Não que isso seja um qualquer remédio para a crise económica, não é valor pecuniário da matéria-prima que as faz cair, mas o seu valor – ou insustentável peso – simbólico! A descolonização parece ter, enfim, penetrado até ao bronze.
Ou será que em Portugal não? Ouvindo os discursos dos "responsáveis" políticos deste país, percebemos que não parecem ter acompanhado as discussões que têm sido tidas por este mundo fora.
A Associação de Amigos da Praça do Anjo (aapA), que nasceu junto a um pedestal abandonado, gosta de discutir as virtudes da gravidade. Afinal, quem cai e quem faz cair? Pareceu-nos, portanto, urgente organizar um ciclo de conversas em torno do valor e significado da representação da dita estatuária pública.
Nas duas sessões deste ano, abordamos a representação do corpo feminino e o derrube de estátuas do espaço público, com os artistas Mariana Morais e Kiluanji Kia Henda.
Em 2021, organizamos a última sessão com a artista Catarina Simão, com foco na sua prática de relação com a arte africana.
Mariana Morais apresentou o seu projeto Mulheres Sem Cabeça e outras ocorrências: Roteiros para a Arte Pública do Porto que aborda as esculturas acéfalas que habitam a nossa cidade, questionando não só estas presenças, mas também o papel das mulheres, que aquelas supostamente representam, na pólis. Personagens sem cabeça?
Kiluanji Kia Henda abordou a retirada de estátuas do espaço público, este fenómeno em nada recente, e de amplitude mundial, que põe em causa os velhos totens dos velhos poderes, a partir da sua prática artística.
Catarina Simão comentou excertos do filme "As estátuas também morrem" (1953) e falou sobre a sua prática artística, que tem sido focada sobre a construção de um novo país independente, Moçambique.
Qual o papel da arte no espaço público? Afinal, quem decapita e quem é decapitado? Quem derruba e quem é derrubado?
A Associação de Amigos da Praça do Anjo foi criada, em janeiro de 2007, por Carla Cruz e Ângelo Ferreira de Sousa no seguimento do furto da escultura A Anja, da autoria de José Rodrigues, situada na Praça de Lisboa. A associação promove, desde então, uma discussão em torno da crescente privatização do espaço público através de variadas ações – visitas guiadas, lápides, petições públicas, performances, jantares comemorativos, etc.
Vídeo e edição:
Miguel F