Clear the Path!
17.06 – 15.07.2022
“Clear the Path” (2014-2020) é uma investigação foto-arqueológica sobre o istmo de Curlandia (Lituania) com foco numa das suas cidades, Nida. Entre os séculos XV e XVIII esta língua de dunas móveis sofreu um processo de deflorestação nunca visto anteriormente na sua história, permitindo que as dunas começassem a mover-se. As dunas, sem raízes que as mantivessem no seu lugar começaram a avançar engolindo, em menos dum século, todas as pequenas aldeias repartidas pelo istmo; às vezes em menos duma geração temporal.
A impossibilidade duma arqueologia do lugar – falta de certezas, desaparições quase totais da documentação e/o artefactos no idioma do istmo, também perdido; a tripla nomenclatura em alemão, polaco e russo – deu azo a continuar o caminho da criação através da ideia duma arqueologia especulativa. Os poucos documentos encontrados reafirmavam esta direção, como aquele ‘Sagenhafte Dorfstelle[1]’ presente num mapa alemão do ano 1914 que significa, literalmente, “onde nos contaram que havia uma cidade”. Essa foi, quiçá, a chave para aprofundar no terreno da especulação.
A artista então decide não procurar a cidade, mas traduzi-la. E começa a criar utilizando meios científicos para encontrar resultados exo-científicos. Bússolas, recolha de amostras, medições. Armada daquela única bússola analógica – com todos os erros que poderia acarretar – empreende uma traslação dos caminhos (da areia, também) da atual cidade de Nida a um ponto, 3,5 km para sul onde, dizem os relatos orais, encontrava-se a antiga cidade de Nida. E documenta essa cidade. Esses caminhos. Esses só grãos de areia.
Presente nessa mostra do INSTITUTO estão algumas das peças mais antigas do projeto, coma a série “Clear the Path!” ou a série de documentos sem títulos, ambas de 2014. Na primeira, a areia, na segunda, o território. Dois agentes, parte dum mesmo conjunto, inimigos, ou nem tanto? Destruidor um, criador o outro. Mas quem é qual, qual é quem? E enquanto a areia cai, o tempo passa, A figura mais directa. Esgota-se perante os nossos olhos. E enquanto cai, destrói a película fotográfica. Mas também faz aparecer a paisagem. Destrói e cria.
As iterações mais perto no tempo, como os mapas, ou a parte performativa do projeto (2018 e 2020, respetivamente) continuam a refletir sobre o território da investigação: um No man’s Land entre a Lituánia e a Rússia, um território inexistente. O que há de mais especulativo que este conceito? Especulação sobre especulação, capa sobre capa enterra-se e cria-se história; desenterra-se e destrói-se outras. As peças desapareciam nas minhas mãos ao simples toque, convertendo-se no pó entre os meus dedos…[2].
[1] Pharus-Wanderkarte für Ausflüge von Cranz nach der Samlandküste und nach den Kurischen Nehrung Maßstab 1 : 100 000 Karte der Kurischen Nehrung mit Einschluß des von Ostpreußen abgetrennten Teiles, Alleinvertrieb für Ostpreussen: Hartungsche Verlagsdruckerei, Königsberg i. Pr.
[2] Placa identificativa do Museu Egizzi, Turín.
Apoio: DG Artes/Ministério da Cultura e Criatório, Ágora – Cultura e Desporto, E.M.
Fotos: INSTITUTO, Virginia de Diego