LEAL - Oficina de Autoconstrução
20 – 27.07.2023
“LEAL – Oficina de Autoconstrução” é um curso de formação na área da arquitetura, que surge na sequência da experiência da iniciativa "Apropriação no Bairro do Leal", realizada dois anos antes. O projeto procura consciencializar sobre a precariedade dos interstícios urbanos do Porto, revelando as suas potencialidades e interconexões com o território mais alargado, através de metodologias de autoconstrução. Numa lógica de continuidade, com recursos modestos, procurou-se reverter o estado atual de abandono, declínio e desinvestimento deste bairro, situado numa zona central do Porto.
A partir do terreno onde decorreu a primeira intervenção, que se mantinha parcialmente vedado, criou-se uma ligação mais franca com a zona desabitada do Bairro do Leal, conhecida como “Iraque”. Assim, tal como já se tinha experimentado em direção ao conjunto habitado, este terreno livre ganhou maior permeabilidade.
Foram realizados exercícios de autoconstrução, consistindo maioritariamente na criação de novas estruturas de madeira, feitas a partir dos materiais da edição anterior da oficina. Deste modo, promoveu-se a prática de reutilização, assumindo-se que estas intervenções têm um caráter efémero, e que não pretendem ser soluções permanentes para a resolução dos problemas urbanos deste lugar. Apesar da sua fragilidade, estas estruturas contribuem para alertar para um caso de abandono e desinvestimento neste pedaço da cidade.
As novas estruturas procuram reavivar a história do local, interpretando elementos encontrados em documentos e relatos, tais como as estruturas de estendais que pontuavam a rua, quase como instalações artísticas, quando esta era densamente habitada. Também o grande eucalipto no centro do terreno, plantado nos anos 1970, quando nasceu o bairro, e mais tarde cortado devido ao risco de cair, foi reinterpretado. Criou-se uma estrutura que simbolicamente preserva a memória desse elemento marcante para os moradores do Leal.
Durante o processo, em conversa com as moradoras que cuidam dos gatos vadios que habitam o terreno, foi sugerido criar “casas de gatos”. Essas pequenas estruturas, também construídas com reaproveitamento de materiais, demonstram que os exercícios da oficina podem contribuir para melhorar e consolidar a dinâmica já existente no local.
O uso das cores bege e vermelho, em diálogo com o bairro, reforça a intenção de “contaminar” a vivência de outrora, e aponta para a intenção de demonstrar que as intervenções com meios escassos, e de pequena escala, podem ser um primeiro passo para uma necessária e urgente requalificação.
Como é “tradição” em iniciativas deste género, a oficina foi concluída com um convívio em que os participantes, moradores e demais curiosos foram convidados a partilhar a experiência e debater sobre possibilidades para o futuro do Bairro do Leal.
Tutores: Paulo Moreira, Tiago Antero
Visita guiada: Sérgio Fernandez
Conferências: Felipe Söndahl, fala, Leopold Banchini
Críticos convidados: Space Transcribers, Natache Iilonga
Artista convidada: Maria Trabulo
Participantes: Clara Sprung, Fernanda Catão, Henrique Cruz, Inês Sequeira Andrade, Paul Barnoux, Valeria Carrion Cruz, Tom Parker, Thais Andrade
Produção e Gestão de Projeto: Raquel Pais, Sara Pinheiro
Fotografia: Raquel Rocha, Ivo Tavares Studio
Apoio: DG Artes/Ministério da Cultura, Ágora – Cultura e Desporto, Carpintaria da Lavandeira, Aipal