Apropriação do Bairro do Leal
10 - 17.07.2021
Organização:
Paulo Moreira
Tutores:
Paulo Moreira, Tiago Antero
A oficina “Apropriação no Bairro do Leal” surge na sequência de uma consciencialização sobre a precariedade existente nos interstícios urbanos do Porto. A obsolescência deste bairro e o seu carácter expectante são o mote para pensar, projetar e transformar um lugar concreto, no espaço temporal de uma semana.
A interação social entre a jovem equipa de participantes e os moradores locais foi uma ferramenta fundamental para a ação arquitetónica. Na sequência de visitas e conversas, definiu-se como local de intervenção um terreno vedado, que se encontrava há anos numa condição de abandono, e que fora outrora ocupado por habitações. A ausência de um espaço verde para usufruto público na zona, reforçou a intenção de resgatar e requalificar este terreno. Através de um processo participativo, de autoconstrução, promoveu-se a sua ativação e apropriação.
O primeiro passo consistiu em retirar a vedação que cercava o terreno, e limpar a sua vegetação descuidada e selvagem. Essa ação permitiu reconhecer as características físicas e topográficas do lugar, tais como a sua pendente; as vigotas de betão que definem o seu limite; o ‘anfiteatro’ criado pelo amontoado de granito dos escombros das casas antigas; o tronco decepado de um eucalipto; o frondoso limoeiro; a empena da casa vizinha; as ruínas ainda de pé e os abrigos espontâneos para gatos vadios (os únicos ‘moradores’ do sítio).
Na fase seguinte, elaboraram-se maquetes de estudo e desenhos com o intuito de explorar formas de apropriação do terreno, através de pequenas ações e construções que propiciassem novos usos. O processo foi intercalado com conferências com autores com experiência em projetos participativos e de autoconstrução em bairros vulneráveis, em diferentes contextos; e críticas com convidados que, com o seu conhecimento, fortaleceram a reflexão sobre o trabalho em desenvolvimento.
Com base numa constante presença no local, iniciou-se a execução de uma série de operações, com diferentes âmbitos e escalas. A intenção foi tratar a totalidade do terreno, tornando-o numa nova ‘casa’, com diferentes ‘quartos’ adequados a funções diversas. Construiu-se um pequeno palco, completando o ‘anfiteatro’, potenciando a realização de pequenos eventos, performances ou reuniões. Com barrotes de madeira, na zona mais plana do terreno, construiu-se uma estrutura de sombreamento, com bancos e uma grande mesa, fomentando convívios e refeições. Criou-se uma zona de repouso debaixo da sombra do limoeiro; reabilitaram-se abrigos para gatos; deu-se novo sentido a uma antiga cozinha, tornada em zona de apoio a eventos; recolocou-se a vedação retirada no centro do terreno, simbolicamente evocando o tronco do eucalipto.
A pintura de novos e antigos elementos com as cores das casas adjacentes, beige e vermelho, conferiu às diferentes ações um sentido de unidade, e simultaneamente materializou a intenção de extensão e diálogo com o Bairro do Leal.
O workshop foi rematado com um convívio com moradores, vizinhos e participantes, que incluiu performances, graffiti, refeição e sessão de cinema ao ar livre. O evento convidou os moradores a cuidarem do local e apropriaram-se do terreno.
Nas semanas seguintes, assistimos por parte dos vizinhos à auto-criação de ‘mobiliário urbano’, à recuperação de um pavimento escondido, à plantação de diversas espécies vegetais e à distribuição de pedrinhas que conferem ao conjunto um sentido de pertença. Meses depois da nossa ação, a equipa de jardinagem municipal visita regularmente e cuida da limpeza do terreno. A nova dinâmica local demonstra o impacto positivo que a introdução de pequenas ações pode ter na melhoria de espaços degradados ou inutilizados da cidade.
Coordenação: Paulo Moreira
Tutores: Paulo Moreira, Tiago Antero
Visitas: Sérgio Fernandez, Pedro Figueiredo
Conferências: Alberto Pottenghi, Elisa Silva
Críticos: Maria Trabulo, João Nuno Gomes
Participantes: Marco Tavares, Bruna Castan, Isadora Crespo, Joyceline Teixeira, Margarida Alexandre, Guilherme Adão, Larissa Miranda, Tomás Abelha, Sílvia Gonçalves, Mariaa Novais, Richard Meszaros
Design: Studio Pê
Produção: INSTITUTO
Assistência de Produção: Joana Graça
Imprensa: Rita Neves
Fotografia: INSTITUTO, Ivo Tavares
Apoios: DGArtes/Ministry of Culture, Ágora - Cultura e Desporto, OASRN, Porto Design Biennale, Invenio Engenharia, Sotinco